Contar histórias aos filhos é muito mais do que diversão

Contar histórias para os filhos é uma das experiências mais fascinantes da paternidade porque ela complementa a leitura de livros juntos. Ela aproxima, estreita o relacionamento e diverte. Puro afeto e ternura! Por isso, é uma ferramenta indispensável no kit de todo pai.

Você narra histórias para eles? Pela narrativa oral conseguimos encartar os pequenos. E eles a nós, com seus olhinhos atentos e curiosos.  Mas será que tem técnica? Afinal, a contação é um importante estímulo ao desenvolvimento infantil. Bem como à compreensão de normas e costumes sociais.

Nesse texto, vamos saber mais sobre essa importância, conhecer um pouco das origens das narrativas e ver dicas de como contar bem para a molecada. Ou seja, fique por aqui que a história já vai começar! 

Por que contar histórias para os filhos é importante

Contar histórias para os filhos é fundamental porque fortalece os vínculos. Além de gerar condições ideais para uma boa dinâmica entre falar e ouvir. Ou seja, as crianças aprendem a dialogar e a se comunicar com diversão.

Pense por um instante: são muitos ganhos em troca de muito pouco. Apesar de estarmos cansados em vários momentos da paternidade e maternidade, devemos contar histórias.

Afinal, somos todos bicho sociais, desde muito pequenos, quando ficamos ligados em todos que vemos. Junte a isso o calor de mãe e a presença da figura paterna… Pronto, temos a receita básica para a contação de histórias.

Benefícios da contação para os pequenos

Quando compartilhamos uma trama com os pequenos, contribuímos diretamente para o seu crescimento.

Os exemplos de pontos a favor podem ser:

  • Ganho de compreensão,
  • Associação e memória,
  • Exercício da imaginação,
  • Prática da linguagem oral e corporal,
  • Intimidade com a narrativa.

São experiências que complementam a leitura de livros. E que dão um gás no aprendizado como um todo, além de encorajarem outra habilidade muito humana: fazer perguntas.

Passar valores e tradicões

Contar histórias para os filhos também ajuda na manutenção de costumes. Muitas culturas, na verdade, sobrevivem graças à narrativa oral.

E existem muitos casos disso, segundo estudos.

Dois antropologistas da University College London, por exemplo, pesquisaram 89 histórias antigas contadas em diferentes lugares, como a Malásia, Tailândia e países da África.

Nesse estudo, eles perceberam que todas tinham algum ensinamento sobre empatia, justiça e cooperação social, entre outros argumentos.

Ou seja, há aí uma ferramenta de construção e preservação de muitas sociedades. Logo, isso mostra o quanto essa prática ajuda no nosso desenvolvimento como indivíduos sociais.

Justamente o que toda criança precisa para se encontrar na sua cultura e nas demais.

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Quando surgiu o hábito de contar histórias?

Esse interesse humano por outras pessoas e pelo que elas têm a dizer vem de longe no passado. Tudo começou quando, ao contrário de outras espécies, deixamos de viver só do instinto animal.

A capacidade de criar e compartilhar narrativas é uma característica intrínseca da humanidade. Tanto verídicas quanto ficcionais. Afinal, adoramos dizer e ouvir “causos”.

No início, foram os desenhos nas cavernas, mas depois vieram outros “meios”, inclusive a voz na narrativa oral.

A origem da narrativa

Quando você tenta entender de onde veio essa nossa necessidade de recontar os fatos, pode ficar horas lendo a respeito. Mas para tentar resumir um pouco aqui, compartilho uma frase do escritor Salman Rushdie:

“Nós somos o animal contador de histórias”.

Salman Rushdie

Pinturas rupestres da caverna de Chauvet: primeira galeria de arte da humanidade

Esse local, no sul da França, preserva algumas das mais antigas pinturas rupestres conhecidas até o momento, com pelo menos 35.000 anos de antiguidade.

Aliás, essa é uma ótima história para contar às crianças (#ficaadica: é só pesquisar no google).

Acima de tudo porque nessa cápsula do tempo podemos ver os primórdios da nossa vontade de contar. Ou seja, o que hoje nos leva a alegrar os filhos com as nossas contações. 😉

https://youtu.be/UQQxphskej8

As pinturas rupestres foram só o começo

Além das paredes das cavernas e da voz, as narrativas também são preservadas de outras maneiras. Nesse sentido, vale mostrar aos pequenos como os humanos conseguiram usar vários outros materiais para descrever os acontecimentos.

O British Museum compilou alguns exemplos muito bacanas:

  • Relevos em palácios assírios,
  • Espelhos chineses de bronze,
  • Painéis de calcário esculpido,
  • Painéis de marfim,
  • Lintel de Yaxchilan,
  • Tapetes,
  • Rolos de pintura (emakimonos).

Como contar histórias para crianças (9 dicas práticas)

Cada um tem o seu jeito de contar narrativas. Afinal, a contação de histórias é uma habilidade muito humana, pessoal e subjetiva. Ainda assim, existem algumas boas práticas indicadas por especialistas no assunto, como os da MasterClass. 😉

Tenha uma mensagem central

Os livros para crianças têm uma mensagem central, tanto os clássicos literários quanto os títulos da primeira infância. Nesse caso, as obras com mais ilustrações e personagens característicos, como um gato que entrega pacotes ou um trator com partes para tocar.

Na contação, o ideal é que a mensagem central da história também fique clara. Assim, os pequenos conseguem fazer melhores associações. E imaginar melhor os elementos do enredo. 😉

Não esconda o conflito da sua trama

Ninguém gosta da ideia de um lobo mau que devora a vovozinha e sua neta (os irmãos Grimm mudaram a narrativa original para suavizar a tragédia).

Entretanto, mesmo as histórias tristes ou impactantes são fundamentais para o desenvolvimento da molecada.

Os conflitos são parte das relações humanas e do aprendizado pessoal. Porque não há como sair da infância para a vida adulta sem uma mínima compreensão dos conflitos.

Por isso, precisamos contar também os conflitos da história, mesmo que seja necessário suavizar alguns pontos.

Começo, meio e fim como bom caminho

Precisamos deixar clara a estrutura da história. Se for um livro, fica fácil. Mas, no caso de uma contação de improviso, em que o desafio aumenta, essa dica é muito útil.

Ou seja, uma divisão clara dos momentos-chave ajuda os pequenos a desenvolveram a percepção de ritmo. Assim como o melhor entendimento da evolução dos contextos e dos acontecimentos.

Claro que com mais idade eles terão maior facilidade para entender reviravoltas elaboradas nas tramas. Como os flashbacks, tão marcantes no filme Memento, por exemplo. 

Mas, nesse começo deles com as narrativas, o ideal é conduzi-los pelo caminho mais natural do início-meio-fim.

Experiências pessoais dão mais sabor

Lembre-se: pais e mães são seres superpoderosos para os filhos. Por isso, vale salpicar os enredos das histórias que contamos com nossas lembranças pessoais. Afinal, esse momento mágico entre pais e suas crianças tem muito de improvisação.

Há outro ponto: contar histórias para os filhos pode ser também um exercício de antropomorfismo porque convida à imaginação. O antropomorfismo está, aliás, na origem da literatura infantil, e precisamos fazer isso com personagens animais, objetos, sentimentos e até coisas abstratas. Dessa maneira, a molecada pode usar ainda mais a imaginação.

As narrativas, quando misturadas com as nossas próprias experiências, tornam-se ainda mais instigantes para os pequenos.

Engaje sua audiência e encoraje a participação

Os contadores de histórias, como atores e comediantes, precisam dar os seus pulos para atrair o interesse das suas plateias. Você sabe: com os filhos não é diferente. Eles têm uma atenção MUITO seletiva, que nem sempre está dirigida aos pais e às mães, claro.

O grande assunto aqui, portanto, é como manter os pequenos concentrados nas histórias que contamos. Mais do isso, é encorajá-los a participar. \o/

Só assim seremos capazes de despertar suas emoções, curiosidade, interesse e descoberta. Além de tantas outras experiências ricas para o desenvolvimento e a educação infantil.

Cuidado com os detalhes na hora de contar histórias para os filhos

Se a ideia é estimular o contato com personagens, ideação e narrativas, os detalhes podem ficar para outras idades. Quando pequenos, vivemos numa sintonia menos fina.

Por isso, os pormenores são dispensáveis e o ideal é contextualizar a trama, sem entrar nas coisas pequenas.

Em vez de:

“Era uma vez um menino, filho de um rei poderoso e respeitado, cujo reino fazia limite com um império de tradições pouco conhecidas (…)”

Melhor:

“Era uma vez um menino, que vivia em um castelo. E não muito longe dali existia um outro reino pouco conhecido.”

Faz ou não faz diferença?

Surpreenda e valorize o mistério

Crianças gostam de histórias que mudam de rumo e de um bom mistério. Justamente por isso podemos explorar esses pontos, pela entonação ou surpresa. Por exemplo, a tartaruga que acaba vencendo a lebre ou a travessura que o saci-pererê irá aprontar.

Contar histórias para os filhos tem essa magia de nos transportar também para a fascinação. Quando contamos, na hora de a criança dormir ou em outro momento, vivemos também experiências únicas.

Use movimentos do corpo

Já que o ideal é reter a atenção dos filhos (embora a distração da plateia faça parte da contação de histórias), podemos usar os gestos como aliados.

Ou seja, movimentos com as mãos, expressões com o rosto e outras demonstrações com o corpo são de grande ajuda.

Além disso, é uma maneira também de estimular a vontade da molecada de imitar. Como resultado, temos outro estímulo à imaginação e diversão.

Por que não uma trilha sonora?

Que tal acrescentar um elemento a mais: a música? Sim, trilhas sonoras podem deixar a experiência ainda mais estimulante, com outro convite ao mundo da fantasia. Afinal, sons, melodias e ritmos cativam ainda mais sensibilidade dos pequenos.

No entanto, é certo que pode não ser a melhor pedida para a noite ou a soneca da tarde. Mas, fora isso, com certeza alegrará ainda mais o momento. 😉

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